Doenças socialmente determinadas: Tudo sobre a Doença de Chagas – Contabilidade é na Rede Jornal Contábil


A Doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é uma doença negligenciada que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. É transmitida pelo inseto vetor conhecido como ‘barbeiro’ e pode causar sérios problemas de saúde se não for diagnosticada e tratada precocemente. Estima-se que, no Brasil, existam cerca de 1 milhão de pessoas infectadas. Atualmente é a doença que ocupa a quarta causa de morte entre as doenças infecto parasitárias no país, com cerca de 4,5 mil óbitos por ano.

A infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi é considerada uma doença socialmente determinada devido à sua estreita ligação com fatores socioeconômicos, culturais e ambientais. Esses elementos desempenham um papel fundamental na transmissão, exposição e impacto da doença nas populações afetadas.

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A transmissão vetorial intradomiciliar cedeu lugar à transmissão ligada ao ciclo silvestre do parasito. Atualmente, este ciclo concentra-se na Região Amazônica. O Brasil registra cerca de 280 novos casos na forma aguda por ano, com 80% destes por meio da ingestão de alimentos contaminados. A análise do Ministério da Saúde indicou tendência de crescimento significativo para a região.

A doença apresenta uma fase aguda, que pode ser sintomática ou não, e uma fase crônica, que pode se manifestar nas formas indeterminada (assintomática), cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva. Na fase aguda, o diagnóstico se baseia na presença de sinais e sintomas sugestivos da doença e na presença de fatores epidemiológicos compatíveis, como a ocorrência de surtos. Já na fase crônica, a suspeita diagnóstica também é baseada nos achados clínicos e na história epidemiológica, porém, como parte dos casos não apresenta sintomas, devem ser considerados contextos de risco e vulnerabilidade.

Determinantes

Comumente encontrada em áreas rurais e em comunidades marginalizadas, a doença está intimamente associada a condições de habitação precárias, falta de saneamento básico e acesso limitado a serviços de saúde. A presença de moradias inadequadas, muitas vezes com materiais de construção precários e infestação por insetos vetores, como o Triatomíneo, aumenta a exposição das pessoas ao parasita.

Fatores culturais também desempenham um papel importante na determinação da Doença de Chagas. O armazenamento inadequado de alimentos, o uso de mobiliário infestado pelos insetos vetores e a falta de conhecimento sobre medidas preventivas contribuem para a propagação da doença. Em algumas comunidades, questões culturais sobre saúde e doença podem resultar em atrasos na busca por diagnóstico e tratamento adequados, aumentando o risco de complicações e transmissão.

Outro fator determinante é a falta de acesso a serviços de saúde e de informações adequadas. A ausência de programas efetivos de controle, diagnóstico e tratamento em áreas endêmicas agrava a situação. A falta de capacitação de profissionais de saúde para reconhecerem e tratarem adequadamente a doença também contribui para a perpetuação da transmissão e o agravamento dos casos.

Além dos fatores socioeconômicos e culturais, fatores ambientais desempenham um papel importante na determinação da Doença de Chagas. Mudanças climáticas, desmatamento e urbanização desordenada podem alterar os habitats naturais dos vetores, aumentando a exposição das populações ao Trypanosoma cruzi. Essas alterações ambientais criam condições propícias para a proliferação dos insetos e a consequente transmissão da doença.

Foto: Arquivo / Ministério da Saúde

CIEDS

De forma inédita, nove ministérios se reuniram para elaborar estratégias de eliminação de doenças que acometem, de forma mais intensa, as populações de maior vulnerabilidade social. O Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDS) foi instalado no início do mês de junho.

Coordenado pelo Ministério da Saúde, o grupo irá funcionar até janeiro de 2030. Dados da pasta apontam que, entre 2017 e 2021, as doenças determinadas socialmente foram responsáveis pela morte de mais de 59 mil pessoas no Brasil. O plano de trabalho inicial inclui enfrentar 11 dessas enfermidades – como malária, esquistossomose, Doença de Chagas e hepatites virais – além da transmissão vertical da sífilis, hepatite B e do HIV. Essa estratégia está prevista nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

A meta é que a maioria dessas doenças sejam eliminadas como problema de saúde pública – são elas: Doença de Chagas, malária, hepatites virais, tracoma, filariose, esquistossomose, oncorcercose e geo-helmintíases. Para outras enfermidades, como tuberculose, HIV e hanseníase, o objetivo é atingir as metas operacionais de redução e controle propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) até 2030. Já para doenças como HIV, sífilis e hepatite B, a meta é eliminar a transmissão vertical, ou seja, quando a doença é passada de mãe para filho.

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A ministra da Saúde, Nísia Trindade, defende que a iniciativa é uma ação abraçada por todo o governo federal e, também, uma importante relação entre governo e sociedade civil. “Não é possível pensar o Ministério da Saúde sem abrir essa grande angular, para que nela possa caber um país com tantas desigualdades, mas também com tantas potências, como é o Brasil. Por isso estamos todos juntos. Essa agenda significa a possibilidade de eliminar doenças como problema de saúde pública, algumas, inclusive, históricas. Esse comitê busca reduzir as desigualdades, para que tenhamos, efetivamente, saúde para todos”, acredita.

A instalação do CIEDS é parte da premissa que garantir o acesso apenas ao tratamento em saúde não é suficiente para atingir essas metas. É preciso propor políticas públicas intersetoriais que sejam voltadas para a equidade em saúde e para a redução das desigualdades sociais, fator diretamente ligado às causas do problema.

Fonte: Ministério da Saúde



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